segunda-feira, 25 de abril de 2016

Minimizar os efeitos negativos da tecnologia – é possível?


Já notamos que o conhecimento de tecnologia se faz necessário para transitarmos confortavelmente em vários aspectos da nossa vida desde a mais simples compra até a mais complexa pesquisa. Outro aspecto que faz com que essa necessidade tramite desde a mais tenra idade até os idosos é a velocidade e quantidade que as informações que transitam através dela.
As demandas da vida moderna exigem de muitas pessoas a conexão integral por motivos profissionais e ou mesmo pessoais. É comum observarmos pessoas utilizando celulares e tablets em bares, festas, reuniões, ruas e praças para diversas atividades e, em decorrência disso, a concorrência pelas tomadas de energia elétrica têm aumentado sobremaneira.
Entretanto, a necessidade de manter-se conectado é tão grande que em alguns casos (não poucos) se torna um exagero. As pessoas param de prestar atenção umas as outras para estar conectadas. Experimente visitar alguns bares onde amigos aproveitam para se encontrar e verifique quantas pessoas, hora ou outra, dão uma “espiadinha” em seus dispositivos móveis. Observe em praças, eventos, ou nas ruas, pessoas acessando seus aparelhos. A conexão tem deixado de ser real para ser virtual.
Essa necessidade, seja a nível pessoal ou profissional, se tornou tão grande que muitos deixam de se comunicar presencialmente. Sempre há pessoas acessando o celular, tablet ou notebooks.
Isso traz um transtorno no que diz respeito a interação com o outro porque a forma de comunicação mudou. Já percebemos um aumento da dificuldade em ler os olhos do outro ou compreender seus anseios através de seus gestos. Quando alguma mensagem nos incomoda apenas desligamos o aparelho ou deletamos a mensagem e fazemos nossas próprias deduções sem perceber o outro.
Na opinião do Dr. Nabuco todo esse encantamento pelas tecnologias faz com que as pessoas deixem de ver as verdadeiras consequências do uso excessivo dela. Aliás, se deixarmos, o encantamento nos cega de forma a não notarmos as verdadeiras consequências de seu uso ilimitado.
Aí surgem perguntas: De quem é a culpa? Dos pais que, tão logo a criança nasce, já tratam de comprar algum aparato tecnológico, incentivando seu uso antes mesmo que aprenda a falar? Da escola que, deslumbrada com todo esse aparato tecnológico, faz a propaganda de uma educação melhor em razão dos equipamentos e não do direcionamento do profissional competente, ou seja, do professor? São questões pertinentes e que envolvem toda a sociedade para uma discussão da qual depende a atual e as futuras gerações.
A intenção deste texto não é apresentar questões para desestimular o uso das tecnologias presentes e sim alertar para a importância de avaliar o uso que cada indivíduo faz delas e suas consequências. Neste sentido Pierre Levy vai mais adiante, apontando a necessidade de enxergar a irreversibilidade que seu uso nos leva. (1999, p. 26) O descortinar desse aspecto cabe a toda sociedade, quer pais, amigos, médicos ou profissionais da educação.
É verdade que essa avaliação não é tão simples, mas não é possível nos escondermos atrás da falta de tempo para nos aprofundarmos no assunto ou de falta de conhecimento sobre o uso dos equipamentos. Fechar os olhos a essa realidade presente pode ser desastroso para o futuro.
Uma das questões ligadas ao acesso à internet está na exposição a violência que ela proporciona. Desde a década de 50, psicólogos, educadores e legisladores iniciaram estudos sobre o efeito da exposição da televisão e mídias sociais, cada vez maior, no ser humano. Rich (Michael, p. 34 e 35) fala sobre esses efeitos abordando a insensibilidade ao sofrimento humano quando a exposição é excessiva. Além disso, alguns apresentam comportamentos e pensamentos agressivos com essa exposição.
Na escola essa preocupação precisa estar presente quando se avalia o uso de cada aparato tecnológico usado. Sobre isso Freire mostrou preocupação com as mudanças sociais e a educação quando afirmou que:
“A mudança social, para ter força instrumental, precisa que o processo educacional tenha relação de organicidade com a contextura social. Mais ainda: que esta relação implique um conhecimento crítico da realidade, para que a ela se integre e não apenas se superponha. ” (FREIRE, 2002 apud ALMEIDA, 2009, p 54 e 55)
A maioria dos estudantes nas escolas de ensino básico são crianças e adolescentes e o fato de que eles se adaptarem precocemente a essas tecnologias e serem inovadores em relação a ela faz com que sejam mais envolvidos do que indivíduos de outras idades (RICH, p. 36). Mas isso não significa que a exposição a determinadas programações das tecnologias disponíveis não afeta os adultos uma vez que essas ferramentas também apresentam função social importante.
É verdade que a tecnologia não pode ser sentenciada como a única culpada das atitudes negativas desenvolvidas pelas pessoas, mas é preciso pensar o que queremos, quais aspectos podem ser desenvolvidos com o auxílio dela, os efeitos causados e se esses efeitos são ou não reversíveis e essas questões devem ser pensadas por quem, de direito, pretende inserir as tecnologias em seu cotidiano, seja ele vida pessoal, filhos, ambiente de trabalho ou escola.
Cool, Monero e colaboradores afirmam que as tecnologias desenvolvem um papel importante na evolução do homem. Isso acontece porque “opera na zona de desenvolvimento proximal de cada indivíduo por meio da internalização das habilidades cognitivas requeridas pelos sistemas de ferramentas correspondentes a cada momento histórico. ” (2010 p. 51). Isso significa que a partir das tecnologias criadas para melhorar a vida dos indivíduos, os mesmos desenvolvem uma forma particular de pensar e organizar a mente para o desenvolvimento da tarefa delegada.
Não restam dúvidas de que há uma imprescindível necessidade de termos objetivos claros calculando suas consequências e permanência delas em qualquer área em que atuemos. A sociedade como um todo precisa repensar o uso das tecnologias para se apropriar dela e otimizando o resultado de suas atividades deixando se ser escravo dela de forma a perpetuar os resultados negativos em sua vida.


Por Rosa Lamana


BIBLIOGRAFIA


ALMEIDA, Fernando José. Folha explica Paulo Freire. São Paulo: Publifolha, 2009.

LALUEZA, José Luis; CRESPO, Isabel & CAMPS, Silvia As tecnologias da informação e da comunicação e os processos de desenvolvimento e socialização. In: Psicologia da Educação Virtual - Aprender e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. p. 47 - 51. Artmed, 2010

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34. 1999.

RICH, Michael. As mídias e seus efeitos na saúde e no desenvolvimento de crianças e adolescentes:reestruturando a questão da era digital. In: Vivendo esse mundo digital - impactos na saúde, na educação e nos comportamentos sociais. p. 36. Artmed. 2013

http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2014/06/10/tecnologia-em-sala-de-aula-computador-ligado-concentracao-desligad/

Nenhum comentário: